Sejam bem-vindos!

Amigos,
Duas vezes por mês deixarei um pequeno artigo sobre coisas que a tradição, a sabedoria popular, a imprensa, as frases prontas e os clichês nos fizeram acreditar!
Os textos anteriores ficarão em três pastas: "Vamos aos Fatos", "Deixe o Cara" e "Atualidades". Sugiro ler os artigos a partir do primeiro; e à noite tem mais clima!
A intenção é lançar o tema para discussão. E a discussão pode ficar bastante interessante. A vantagem é que daí, pessoalmente não precisaremos falar nada sério. Espero que gostem, comentem sobre o tema, curtam, acrescentem, discordem, expliquem melhor, coloquem reflexões, frases... e indiquem aos amigos para que façamos um grupo aberto pensante.
PENSAR MAIS, ACREDITAR MENOS!
Divirtam-se, Carlos Nigro

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Amor - Parte 3: Pensar mais em si mesmo é ser egoísta?

“Pensar mais em si mesmo é ser egoísta”.
Você acredita mesmo nisso?
A tirania das pessoas boas (1)
Amor - Parte 3


Individualidade é observar, conhecer e cuidar de si mesmo. É ser independente, autêntico; é tornar-se quem se quer ser .
Isso não implica ser indiferente ou passar por cima dos outros.

O amor é uma arma muito eficaz para o egoísta, muito mais eficiente que a individualidade porque ama para possuir.


Mas a pessoa egoísta e a altruísta são hipóteses extremas, caricaturas fora da realidade. O egoísta ficaria sozinho, assim agiria contra si mesmo. O altruísta faz bem para si. São situações misturadas indescritíveis.



Pessoas de bom coração acreditam que amar é sacrificar a própria individualidade para o bem de todos. Todos, não significa todas as pessoas da sociedade ou do planeta, mas todas as pessoas que eu gosto, ou que precisem de mim, ou da minha coletividade ou todas que pensam como eu para um mundo melhor. Todas as pessoas de um grupo.


No grupo, os indivíduos reais são esvaziados em nome do, abstrato e hipotético, bem comum.
Dentro deste grupo existem os indivíduos que são amados (A) e os que amam (B) numa relação de dependência.

Um grupo só existe porque muitos não podem entrar. A formação dos grupos é a incitação da guerra.
Os integrantes de um grupo sempre consideram que seu grupo é melhor ou superior aos outros grupos e mais ainda às pessoas sem grupo. Aliás, não existem outras pessoas a serem consideradas, mas outros grupos. As pessoas sem grupo são a escória de individualistas “egoístas”.
A relação é: nós contra eles. O bem contra o mal.





É muito provável que se faça mal aos outros pertencendo a um grupo.
Pessoas que não desenvolveram a sua individualidade se aproveitam desta relação de dependência para o egoísmo, para a maldade e, às vezes, para o ódio.

Em decorrência de tanta bondade, de tanto amor, os “grupos organizados da sociedade civil” defendem políticas baseadas no amor. Para o seu grupo, é claro!
A possibilidade de uma relação amorosa entre duas pessoas ser satisfatória é baixa e sujeita a muitos riscos. A possibilidade de políticas públicas baseadas no amor darem certo é nula - sempre dá merda!



Para o triunfo do Bem é politicamente legítimo mentir, roubar, prender, matar1... afinal não estamos ao lado do Bem? O mal, o individualismo, o egoísmo, os que discordam dos bons precisam ser vencidos, certo?

Estas políticas assistencialistas só se realizam mediante a dissolução das vontades individuais numa hierarquia de comando que culmina na pessoa do guia iluminado, do Líder, do Imperador, do Führer, do Pai dos Povos, do homem bom que sabe o que é melhor para todos.
A generosidade coletiva culmina no império do “Indivíduo Absoluto”. E esse indivíduo, que a propaganda recobre de todas as pompas de um enviado dos céus, não é jamais um exemplo de santidade, virtude e heroísmo, mas de maldade, abjeção e covardia. A generosidade estatal é o triunfo do Egoísmo Absoluto.2



Cada indivíduo, único, pertencente à espécie humana é muito mais ético e moral porque enxerga e aceita todas as outras pessoas diferentes como iguais; porque respeita a integridade e defende a liberdade de escolha que cada pessoa pode fazer. Todas as pessoas do mundo!
Por isso proíbe que se usem outras pessoas como meros instrumentos para o hipotético e abstrato bem comum. Assim, impede propósitos egoístas.


O desenvolvimento dos valores da intimidade, da vida privada não é um recolhimento individualista, egoísta, mas um humanismo maduro. Os problemas do indivíduo tendem ao coletivo.
O individualismo está ligado à desvinculação das tradições comunitárias. Uma mulher que se recusa a casar a força no Irã é individualista, não egoísta.

Quando estamos sadios não sentimos partes isoladas do corpo, sabemos que se trata de um todo integrado e essa consciência gera um sentimento de bem estar e serenidade.
O funcionamento da mente do indivíduo saudável, ativo, potente, sereno não é “nós contra eles”, é “todos nós”. “Todos nós” é a consagração da potência da individualidade única e infinita, diferente de todos os outros, mas em igualdade - não há superioridade e inferioridade, todos os indivíduos são iguais. Um todo integrado e essa consciência geram um sentimento de bem estar e serenidade.
Não existe a intenção de vencer o mal, aniquilar o inimigo que tem ideias diferentes ou mesmo opostas. Não existe um projeto, uma finalidade a qualquer custo.
A graça, o interessante, são os debates, as ideias novas, os novos dilemas éticos que forem surgindo. Liberdade é, apenas e exclusivamente, a liberdade dos que pensam diferente.3

A pessoa saudável (B) conhece e gosta de si mesma, tem relações afetivas leves, quer dar mais e receber menos.
Está madura para o verdadeiro amor, para cuidar de outras pessoas (A) ajudando-as a si tornarem saudáveis e independentes.
Recuperada, ex-A precisa parar, observar sua mente, o que importa, para se conhecer melhor e tomar atitudes para se tornar uma pessoa melhor; madura e apta para um amor leve.
Quanto mais competente o individuo for para viver sozinho, mais preparado estará para uma boa relação afetiva.

Um amor verdadeiro tem mais liberdade, menos dependência, mais alegria e prazer de estar junto.
O aproximar-se (amor) e o afastar-se (individualidade) torna possível seguir simultaneamente o impulso de liberdade e a ânsia por pertencimento.4

O amor não dá sentido a nada.
Ninguém agüenta a paz, a harmonia, o aconchego: isso é a morte! Nosso cérebro é muito ativo para vivermos no paraíso.
Em vez de procurar o paraíso perdido (AMOR) vá em frente e faça a sua história (INDIVIDUALIDADE); dê o sentido.



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1.    Trotski
2.    Olavo de Carvalho
3.    Rosa Luxemburgo
4.    Flávio Gikovate

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Amor - Parte 2: All you need is love

“All you need is love”.
Você acredita mesmo nisso?
Amor - Parte 2



Amor é o que precisamos para tratar nossa sensação de desamparo e incompletude. Procuramos amor nas pessoas que ofereçam paz, aconchego, tranqüilidade, harmonia. (1) Então sentimos prazer decorrente de se estar mal, doente.
As pessoas não querem amor. As pessoas precisam de amor.
Esta é a fraqueza humana. Muitas vezes se torna uma doença causada pelo complexo materno (o desejo de fracassar, do aconchego da mãe).

O amor é o remédio para ficarmos saudáveis, ativos, independentes; ou, pelo menos, para aliviar o sofrimento.

Como todo remédio deve ser prescrito somente em casos de necessidade, na menor dose e pelo menor tempo possível porque tem efeitos colaterais muito prejudiciais, vicia e pode nos tornar dependentes!
O amor é regressivo, mimado, chato, monótono, repetitivo, enjoativo, egocêntrico. Infantiliza, impede o desenvolvimento da personalidade.
“Bobagem, impossível, é exatamente o contrário!”
Vamos lá!




Indivíduo A precisa de amor porque está carente, precisa de ajuda. Está sem autonomia.
Indivíduo B tem amor para oferecer a A, quer cuidar de A.

Comentário 1)
B não pode se aproveitar de sua posição superior para oferecer a A o que quiser. O amor não pode ser imposto como a história da velhinha que não queria atravessar a rua:
B: “Só fiz isso porque te amo!”
A: “Mas eu não queria! Esqueça de mim!”
Isto acontece porque não é possível compartilhar afetos. B acredita que sabe o que é melhor para A - sua posição superior lhe dá esse crédito. Mas cada um sente de uma forma. B espera que A sinta o que ele sente e, por isso faz o que gostaria que fizessem para ele.
O amor já era!


  A deve pedir ajuda, pedir amor a B. B ama A.
  B deve servir a A sem esperar nada em troca.
“Nem um ‘muito obrigado’?”
Nem um “obrigado”.


Comentário 2)
O amor é usado como uma troca de afetos onde A ama B esperando (mesmo sem saber) ser amado por B. O amor estimula a vaidade porque espera esta reciprocidade.
Então B está carente (não assume porque está em posição superior) e ama A (o inferior) de forma que receba seu amor de gratidão.
B trabalha com seu amor para possuir, subjugar, escravizar, para que A passe a ser dependente de seu amor e, assim, possa continuar a receber o amor de A.
O alcoólatra não é livre para apreciar o álcool. O dependente de amor e de amar não é livre para apreciar o amor.
O amor, num círculo vicioso para o buraco negro!


Comentário 3)
B amará, cuidará e fará bem para A se, com suas atitudes, ajudar A a tornar-se saudável, seguro, potente e independente de seus cuidados, de seu amor e de qualquer amor. O amor é necessário para que A consiga se recuperar e tenha condições de se manter e se desenvolver com o seu próprio esforço.
B só estará apto para esta tarefa se estiver saudável, livre, sem a necessidade ou o desejo de amar e/ou de ser amado; sem o medo da ruptura e do ciúme, sem a esperançade ser correspondido.
Amar com medo e esperança é estar a um passo da maldade e do ódio.
A alegria, a potência, a felicidade, a serenidade só existem onde não houver medo, esperança e amor.

Assim, saudavelmente, surge a INDIVIDUALIDADE

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1. Flavio Gikovate

LEIA TAMBÉM: Amor - Parte 1: O amor é um sentimento humano!