Perguntas adequadas.
Uma moradora de Higienópolis afirmou que não quer “pessoas diferenciadas” e “camelôs” que viriam com a estação de Metrô.
Por que a moradora disse isso?
Para haver uma estação de metrô basta uma escada de acesso. Não seria necessário criar espaços vazios para aparecerem camelôs. Ademais, se a presença de camelôs neste local for ilegal o Estado teria que agir para combater a ilegalidade.
Pessoas de classe social mais baixa são diferentes, desconhecidas, perigosas, têm hábitos estranhos. Ela deixa claro seu medo. Na ausência de conforto existencial as pessoas tendem a se concentrar na sensação de segurança. Progresso, câncer, depressão, terrorismo, o desconhecido são as causas escolhidas para o medo já existente.
O preconceito tem mais importância em suas atitudes que o dinheiro. Estação de metrô valorizaria mais ainda o seu apê.
O idealizador do churrasco de protesto, Danilo Saraiva, afirmou que “a elite paulistana é babaca”.
Por que Danilo organizou a manifestação?
A mente dele funciona assim: em seu mundo imaginário ele não enxerga pessoas, vê categorias (povos, raças, religiões, sindicatos, homens, mulheres, gays, ricos, pobres, exploradores, explorados, povo e elite - acho que são só estas). Quando vê uma pessoa automaticamente pensa: “em qual categoria ela se enquadra? Qual categoria ela representa?”
Ele generaliza a opinião da moradora como opinião média dos moradores de Higienópolis.
Sua mente colocou ordem no mundo: ricos são pessoas ruins, pobres são pessoas boas; pobre que ganha dinheiro vira pessoa ruim. Empresário explora empregado; empregado que contrata empregado vira explorador. Pobre tem que ter escola ruim, escola boa é elitista; pobre com ensino de qualidade vira elite (para evitar este problema o MEC distribui livros didáticos que ensinam que escrever de forma culta é elitista, por isso escrever errado é uma variação da norma culta).
Liberdade é escravidão, ignorância é força.
Ainda escancara seu preconceito contra elites. A ideia é que ser da elite é algo intrinsecamente ruim. Assim, é recomendável não estar acima da média, não ser melhor para não ser da elite. Estar acima da média é estar contra a igualdade social e se desenvolver e melhorar de vida contraria a ideia de luta de classes porque a pessoa muda de classe. (Tema para outra oportunidade.)
Sua mente precisa da divisão da sociedade em grupos, do choque de classes, do confronto do bem contra o mal para que seu mundo ginasial passe para o real e sua vida tenha sentido.
A moradora e o churrasqueiro possuem cérebros que sobreviveram à seleção natural porque estão bem adaptados ao ambiente; poupam energia e reagem rapidamente, num reflexo. Raciocínio rápido e presença de espírito para pessoas idiotas e ignorantes.
As categorias más são as culpadas por meus medos e fracassos.
Por que as pessoas foram ao churrasco?
A mente de Danilo foi forjada na ideologia socialista-comunista representada pelo PT.
Não estavam preocupados com os problemas para a população (de moradores, de trabalhadores ou de apreciadores do bairro) que a falta de um metrô ali traz. Não leram a respeito da necessidade e viabilidade de uma estação de metrô ali.
Foram fazer campanha política para a prefeitura 2012. Por isso os protestos contra Kassab e Alckmin durante o churrasco.
Num site de “entretenimento” li que o humorista profissional Danilo Gentili do CQC escreveu em seu twitter que a última vez que os velhos (judeus) de Higienópolis estiveram perto de vagões foram parar em Auschwitz, por isso eles têm medo de metrô.
Por que Danilo Gentilli, o humorista, fez a piada?
Danilo tem muitos seguidores que aguardam pelo twitter suas piadas para rirem.
A presença de milhares de seguidores o obriga a fazer graça, satisfazer seus fãs e manter sua popularidade. Ele não é livre; um escravo da piada.
A mente do sujeito engraçado profissional fica a espreita, procurando alguma notícia que possa se prestar ao ridículo (contrastes, trocadilhos, preconceitos, desgraças).
O humorista pode abrir ou explicitar ângulos interessantes sobre o tema - acontece espontaneamente, naturalmente e não frequentemente.
Pode também desvirtuar algo de engenhoso ou profundo, de terminar com uma discussão interessante ou direcioná-la para o ridículo encobrindo sua ignorância sobre o tema. Como uma criança que embaralha as cartas para começar de novo porque o jogo não está bom.
Por que seus seguidores não gostaram da piada?
No momento em que o fã recebe o twitter de Danilo, seu espírito se abre, seus olhos brilham e um sorriso se esboça. É possível que muitos tenham soltado uma gargalhada. No momento seguinte, uma seriedade gelada, um vazio.
Não foi uma alegria doce, com um sorriso. Uma alegria que permanecesse, que transmitisse uma ideia ou uma crítica que fizesse pensar ou propiciasse bem-estar por mais tempo.
Foram enganados. Riram do que não queriam. Eles existiram menos durante o tempo do vazio.
Por isso reclamaram pedindo sua dignidade e seu tempo de volta. A atitude de Danilo de deletar o que escreveu foi como uma devolução do dinheiro, do tempo perdido.
Após este incidente seus clientes estarão mais críticos ao receber seu twitter.
O metrô é um meio de transporte de qualidade para todos. Como a praia ou a Praça Buenos Aires.
A moradora e o churrasqueiro querem distância ou confronto, respectivamente. Apreciam ilhas de similaridade e semelhança num mundo de variedade e diferença.
A vida entre pessoas semelhantes aliviam o desconforto da inexorável convivência. Evita a necessidade de nos examinarmos uns aos outros; suprime o esforço de compreender e negociar.
Mas a mesmice não afasta a insegurança que está dentro de cada um e a fuga reforça o isolamento e o medo dos outros; desconhecidos, diferentes e incompreensíveis.
A proximidade com os estranhos deve ser diariamente examinada, experimentada, testada num formato que torne o convívio tolerável. A arte de viver em harmonia, de viver nas diferenças, de conviver. A humanidade por trás das diferenças.
A cidade grande estimula a mistura. Quanto mais heterogênea a cidade maior variedade de atrações ela sustenta e oferece. É um repelente e um ímã atraindo pessoas cansadas de suas vidas monótonas e iguais no campo ou nas pequenas cidades.
O medo, causa dos preconceitos, é usado para obter lucro político (a churrascada) e comercial (sites, jornais, TVs).
Para quebrar os preconceitos (medo e ignorância) a moradora e o churrasqueiro poderiam almoçar juntos; e o comediante tomar um chopp com um velho de Higienópolis. Teriam a oportunidade de descobrir que não existem categorias, só existem pessoas; e libertariam suas mentes cativas.