“Oito de Março - dia da mulher (M). Como em todos os programas de TV, jornais e revistinhas temos que lutar contra o preconceito e mostrar como as M são discriminadas na sociedade ocidental.”
Você acredita mesmo nisso?
Ø 21% das M trabalham. 74% dos homens (H) trabalham (IBGE 2010).
Raciocínio lógico dos especialistas e colunistas: Pessoa que não trabalha está desempregada; logo o desemprego é muito maior entre as M devido à discriminação contra a M.
Mundo real: 1) O índice de desemprego está muito baixo, quase no nível de pleno emprego (pleno emprego não significa 0% de desempregados porque existem desempregados que assim estão por serem despreparados para o emprego que desejam).
2) Pessoas que não trabalham podem, por muitas razões, não querer trabalhar (cuidar da casa, dos filhos, o marido ganha bem, vive de renda, mora com os pais, com o tio, ganha mesada do amante e outros motivos).
Ø As M trabalham menos horas que os H nas mesmas profissões (IBGE 2010).
Raciocínio lógico dos especialistas e colunistas: As M trabalham menos porque trabalham em casa, com os filhos devido à discriminação contra a M; “é preciso rever o conceito sobre a ideia de que criar filhos é obrigação da M”.1
Mundo real: 1) Muitas M gostam de cuidar da casa e dos filhos e não estão querendo “rever este conceito” para trabalhar mais... Atualmente muitos H gostariam de trabalhar menos para estar mais com os filhos, com a esposa, ter mais lazer...
2) Muitos H divorciados lutam na justiça para estarem metade do mês com seus filhos. As M são contra - as feministas devem ser, coerentemente, a favor.
Ø Quem decide a decoração da casa é, em 94% das vezes, a M; quem decide para onde viajar é, em 92% das vezes, a M. Quem decide, na vida doméstica, é a M há séculos.
Raciocínio lógico dos especialistas e colunistas (mas que se esqueceram de escrever): as M mandam nos H que são discriminados.
Mundo real: a M cuida mais das atividades domésticas; isto implica tomar decisões.
Ø A renda média anual das M é de 12mil reais e dos H, 20mil (IBGE 2010).
Raciocínio lógico dos especialistas e colunistas: As M ganham menos que os H devido à discriminação contra a M.
Mundo real: 1) Por “falta de atenção” dos analistas (“errar é humano”) fez com que não associassem com o fato de trabalhar menos.
2) A maioria das M médicas recebe o mesmo valor por consulta, mas por trabalharem menos, tem renda mensal menor. Para outras profissões liberais acontece a mesma coisa.
Não existe nos concursos públicos uma nota de rodapé: “Caso o cargo vir a ser preenchido por uma M o salário será 40% menor.”
Nas empresas privadas, casos em que a M recebe menos que o H (com mesma função, mesma carga horária e mesma produtividade) são raríssimos, mesmo porque o empresário sabe que isto causaria desmotivação e diminuição da produtividade.
Para serviços temporários é comum o H ser mais audacioso (cara-de-pau) e propor um valor maior. Neste caso a M poderia começar a se valorizar mais e agir da mesma forma; mas isto cabe à M, não é culpa de preconceitos.
3) A maioria das M casadas pensa no seu salário para pagar suas próprias despesas e complementar a renda familiar. A maioria não gosta da situação em que seu marido tenha renda menor ou até igual a ela.
4) Não encontrei o método usado para achar esta média (os dados divulgados são preliminares), mas deve ter entrado todos aqueles que trabalham, mesmo que seja muito pouco. Espero que as pessoas que não trabalham não tenham entrado para forçar a renda das mulheres mais para baixo (não duvido!).
Ø No Brasil, as M estudam mais que os homens (H): média de 10 anos; H, 9,3 anos. A maioria dos Doutores titulados anualmente é M. A maioria dos médicos formados é M.
Raciocínio lógico dos especialistas e colunistas (mas que se esqueceram de escrever): o H sofre preconceito. O governo precisa criar uma secretaria especial que zele pela igualdade sexual na educação!
Mundo real: as M valorizam mais a educação e procuram profissões que dependam mais de conhecimento intelectual.
Ø A M é minoria nos cargos de chefia, diretoria e presidência.
Raciocínio lógico dos especialistas e colunistas: Os H não deixam as M terem crescimento profissional - discriminação.
Mundo real: No ambiente de trabalho, todos sabem que existem M e H muito competentes (nem todos os H, nem todas as M). Alcançar cargos de chefia exige muita competitividade, é preciso vencer os concorrentes. As M não querem abdicar de cuidar e acompanhar o desenvolvimento dos filhos e de sua vida pessoal para uma maior dedicação ao trabalho.
Ø 36% dos funcionários públicos são M; 64%H.
Raciocínio lógico dos especialistas e colunistas: O Estado Brasileiro é preconceituoso. Para compensar criamos uma lei de cotas para que as M ocupem 30% dos cargos eletivos.2
“Mas não faz sentido uma lei para 30% se já ocupam 36%!”
Mundo real: Quem disse que as leis de cotas foram feitas para fazer sentido?
Ø Dilma é eleita Presidente da República.
Raciocínio lógico dos especialistas e colunistas: Uma M é eleita vencendo o preconceito. Teremos uma administração feminina!
Mundo real: Dilma não venceu as eleições porque é M, mas simplesmente porque Lula a escolheu para passar a sua popularidade. Da mesma forma ele passaria sua popularidade para um H.
Mas ele a escolheu exatamente por acreditar que sendo M e inexperiente será mais fácil dominar e manipular a sua criação - Íris Resende e outros sabem disso.
Lula sabia que a possibilidade de permanecer sendo o chefe de sua cria seria nula - Maluf, Perilo e outros sabem disso.
Paradoxalmente a eleição de Dilma foi a vitória do machismo escancaradamente enaltecido por toda a campanha eleitoral.
Após a vitória Lula aconchega a cabecinha de Dilma em seu peito: “Boa menina! Continue assim” – Dominação, infantilização, autoritarismo.
Não existe administração feminina. Se Dilma fizer um bom governo não significa que as M sejam competentes. Se fizer um governo ruim não significa que sejam incompetentes.
Ø As M vão mais ao médico, se alimentam melhor e vivem mais que os H (66 anos M; 62 H)
Raciocínio lógico dos especialistas e colunistas (mas que se esqueceram de escrever): os H são discriminados pelos médicos. Não comem para dar mais comida aos filhos e à M.
Mundo real: 1) muitas M cuidam mais da saúde e geneticamente vivem mais.
2) Muitos H acreditam que cuidar da saúde e ir ao médico são sinais de fraqueza.
Ø “A M é mais sensível para os sentimentos humanísticos e para a noção de justiça”.3
Raciocínio lógico dos políticos, do especialista e do jornalista: reforçar clichês e a sabedoria popular para mostrar que está em harmonia com o povo. Talvez as pessoas falem e escrevam o que vier à cabeça mesmo.
Mundo real: M engravidam, amamentam e têm uma quantidade limitada de filhos. Isto faz com que, na maioria das vezes, tenha um vínculo muito forte com seus filhos. Ser do sexo feminino não faz a pessoa “ter mais sentimentos humanísticos ou ser mais justa”.
Pessoas machistas existem e existirão sempre e em todos os lugares. Leis não fazem as pessoas mudarem de ideia.
O importante não são as leis contra a discriminação, mas lutar para acabar com as leis discriminatórias contra as M.
Há quatro meses Lula, Chavez, Fidel, Kadafi e outros humanistas se abstiveram de votar resolução da ONU contra as leis de apedrejamento de M adúlteras no Irã - H adúlteros não são apedrejados. Felizmente foram minoria.
O Ocidente e o Brasil não têm leis discriminatórias contra a M. Os Brasileiros não são preconceituosos, o preconceito é mal visto. Pessoas preconceituosas existem e não mudam por decreto.
As M estudam, trabalham o quanto quiserem, casam, separam e têm filhos se e quando quiserem, são independentes.
Para os feministas a M deve fazer tudo o que o H faz para mostrar que é competente. O H e o que ele faz é a referência para estas cabecinhas. As M devem trabalhar mais, ficar menos com os filhos, serem presidentes para mostrar que são capazes. Por que tanta insegurança? Por que tanto sentimento de inferioridade?
Resposta: a ideologia da divisão da sociedade em grupos (artigo futuro).
O dia da M é uma homenagem merecida às M.
A M não precisa de análises distorcidas das estatísticas para reforçar mitos e agradar ao senso comum.
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1. Jornalista Mirian Leitão.
2. Senadora Marta Suplicy.
3. Governador Marconi Perilo.
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