Sejam bem-vindos!

Amigos,
Duas vezes por mês deixarei um pequeno artigo sobre coisas que a tradição, a sabedoria popular, a imprensa, as frases prontas e os clichês nos fizeram acreditar!
Os textos anteriores ficarão em três pastas: "Vamos aos Fatos", "Deixe o Cara" e "Atualidades". Sugiro ler os artigos a partir do primeiro; e à noite tem mais clima!
A intenção é lançar o tema para discussão. E a discussão pode ficar bastante interessante. A vantagem é que daí, pessoalmente não precisaremos falar nada sério. Espero que gostem, comentem sobre o tema, curtam, acrescentem, discordem, expliquem melhor, coloquem reflexões, frases... e indiquem aos amigos para que façamos um grupo aberto pensante.
PENSAR MAIS, ACREDITAR MENOS!
Divirtam-se, Carlos Nigro

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Parte 3: "Dependemos da Indústria Cultural.” Você acredita mesmo nisso?


“Mas livros, CDs, cinema, teatro e outros espetáculos compromete o orçamento dos mais pobres. E agora?”
O Estado tem o dever de tomar atitudes que façam com que as pessoas nascidas num ambiente desfavorável (econômica ou culturalmente) tenham oportunidades proporcionais para se desenvolver. Precisam principalmente de educação de qualidade (não de cartilha doutrinadora) e também de cultura geral.
É esperado para o primeiro semestre deste ano a aprovação do Vale-Cultura, um benefício de 50 reais mensais para trabalhadores que recebam até cinco salários mínimos. Este vale só poderá ser gasto em produtos culturais como livros, CDs, DVDs, cinema, teatro e outros espetáculos.
É um incentivo para as pessoas consumirem cultura. Mais democrático (as pessoas têm o poder), mais livre (as pessoas escolhem), meritocrática (os melhores artistas serão beneficiados).
Se o artista acreditar que as pessoas vão querer assisti-lo ele poderá buscar financiamento ou patrocínio.
As pessoas podem gastar estes vales com o que existe de melhor (também em cultura todos querem o melhor), como as grandes obras clássicas universais, de indiscutível qualidade: os clássicos da literatura, da filosofia (existem autores de fácil compreensão), da música, do cinema, da pintura (museus) e outros espetáculos de reconhecida qualidade. São grandes obras porque na particularidade atinge a universalidade, toda a humanidade. Seria um bom parâmetro para gastar os vales.
Os artistas brasileiros terão que se aprimorar sempre para se tornar atraentes, pois estarão competindo com as obras clássicas e as internacionais. Nossos agricultores, empresários, comerciantes, médicos, arquitetos, engenheiros, cientistas fazem isso. Nossos artistas não merecem nenhum privilégio estatal papa produzir cultura.
O Brasil tem setores econômicos competitivos globalmente, em outros somos péssimos.  Nas artes, os músicos são muito capazes para o mercado cultural global. O cinema pode melhorar se o Estado não tentar ajudar.
“Mas competir com os clássicos é muito difícil.”
E quem realmente quer? É triste admitir, mas as grandes obras, muitas vezes, não nos tocam tanto quanto uma música pop, um best-seller ou um filme blockbuster.
Livros de autoajuda, romances leves, música e outras expressões artísticas de qualidade questionável podem ser apenas o início de muitas descobertas para muitas pessoas.
“Novas expressões da arte popular só chegará ao povo com a ajuda do Estado.”
Comida tailandesa também. Como a pessoa pode experimentar de tudo? Nem os artistas profissionais experimentam tudo! A pessoa tem que viver num meio propício para que tenha vontade de conhecer arte contemporânea, ou as novas expressões artísticas nacionais ou estrangeiras. Um livro, uma música, uma pintura, cada expressão artística puxa outra. Deixe a pessoa fazer o caminho que quiser!!!

“Mas sem dinheiro público como os artistas ficarão conhecidos e ganharão dinheiro?”
São cineastas porque querem, são cantores porque querem são atores porque querem. São livres para escolher o seu caminho. E, com efeito, também somos livres para consumir ou não o que produzem. Com investimento público, uma escolha, no entanto, não podemos fazer: deixar de pagar caro para que eles nos “salvem” da ignorância de não conhecermos sua arte!!!
Sem subsídios estatais poderemos ter menos pessoas que sobrevivam da arte que fazem. Mas poderemos ter mais arquitetos compositores, mais engenheiros guitarristas, mais empresários pintores, mais funcionários públicos escritores, mais programadores escultores, mais advogados poetas...
E o mais interessante é que suas artes os tornarão melhores profissionais e suas experiências profissionais influenciarão sua arte!

O artista aprende quais são os caminhos e as pessoas que facilitarão o acesso ao dinheiro público. Eles têm uma noção bastante particular de como arrumar dinheiro. Alegam que é muito difícil ganhar dinheiro no mundo lá fora. Disso ninguém discorda. Políticos, empresários e outros que descobrem estes caminhos e as pessoas para o dinheiro público costumam ser muito bem sucedidos. Não se lembram que o dinheiro público vem exatamente daquelas pessoas que trabalham superando as dificuldades deste mundo lá fora. A situação é tão invertida que artistas que pedem dinheiro público passam a impressão de serem pessoas puras que não ligam para dinheiro.

A internet (Facebook, Twitter, Youtube, Emails...) é a melhor maneira para o artista aparecer, mostrar seu trabalho, ser descoberto e ser disseminado como um vírus por todos aqueles que curtiram seu trabalho para todo o planeta1.
Sites e blogs dos artistam podem servir para vender (literalmente, em dinheiro) seus trabalhos diretamente, sem intermediários. Seus admiradores terão prazer em apoiar pagando diretamente ao artista para valorizá-lo e para que continue produzindo. O consumidor poderia pagar o preço que considerasse justo. Poderia haver, por exemplo, quatro preços por uma música: 60 centavos, 1, 2 ou 4 reais. Quanto vale uma canção?.
Assim como o iTunes vende em seu site, as músicas e os filmes podem ser vendidos em sites próprios ou de associados. Blogs, Facebook, Twitter, vídeos, bastidores, atualidades, loja de artigos do artista, programação dos espetáculos, tudo para um contato direto do artista com seus admiradores-parceiros-consumidores e patrocinadores. Sim, acredito ser possível e economicamente viável para uma parcela dos artistas.
Existem também os sites de “financiamento por multidão” - o crowdfunding. O artista explica seu projeto e de quanto precisa. Quem se interessa oferece o valor que puder seja por altruísmo, para propaganda pessoal ou da empresa, para receber CDs ou DVDs ou, ainda, para participação nos lucros.

Conclusões:
 a pessoa é livre para fazer o que quiser. Gastar ou não com cultura; nacional ou estrangeira; clássicos ou contemporâneos; para diversão ou com lição moral; boas ou ruins (ela valoriza como quiser).
 O Estado ajuda a produção cultural não fazendo nada; e ajuda as pessoas a serem mais cultas dando educação de qualidade para todos e vale-cultura para as pessoas com poucos recursos.
 Uns artistas terão outra atividade remunerada. Outros receberão o que seu público consumir.
________________________________________ 
1. O rapper tunisiano, de 21 anos, Hamada Ben-Armor, conhecido como El General, fez a música que inflamou os protestos que derrubaram as ditaduras da Tunísia e do Egito e ainda inflamou os protestos na Argélia e no Bahrein. Ele não precisou de gravadora nem de apoio estatal - obviamente. Da casa de seus pais ele divulgou suas músicas pelo My Space e Facebook.

ENQUETE
Você é a favor da doação de dinheiro público para os artistas escolhidos pelo governo?

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4 comentários:

  1. Muito bom a reflexão! Acredito no papel estatal do incentivo a cultura. De toda forma, ainda estamos aquém de uma boa distrubição desses recursos. Por hora nos resta parte do que trouxemos de berço. Torço para que um dia Carmem de Bizet custe 10 reais no municipal! Abs,
    ÌM

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  2. ravadoras garimpam novos talentos na WEB.
    Lançam um single e se a acolhida for boa, partem para um disco completo.
    Atualmente 20% de suas DESCOBERTAS são assim:
    http://veja.abril.com.br/noticia/celebridades/ouvidos-digitais-como-as-gravadoras-garimpam-talentos-na-internet

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  3. Músicos, escritores e outros criadores já recorrem ao crowdfunding, ou financiamento coletivo da internet, para dar vida a seus projetos. O mecanismo coloca em xeque as deformadoras leis de fomento da área de cultura.
    http://veja.abril.com.br/noticia/vida-digital/dinheiro-publico-para-que

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  4. Marta, Ministra da Cultura, resume com enorme clareza e perspicácia o que se entende por Cultura no Brasil:

    http://g1.globo.com/pop-arte/noticia/2013/01/pode-comprar-revista-porcaria-diz-marta-sobre-vale-cultura.html

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